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terça-feira, 5 de outubro de 2010

Fátima Pacheco Jordão comenta 2º turno


Valor: Como fica o apoio da Marina no segundo turno?

Fátima: O PV vai fazer alianças e, provavelmente, vai apoiar o Serra. Mas a Marina deve ficar distante desses acordos. Assim como Lula, Marina tem prerrogativas. Nessas eleições, ganhou autonomia. Conseguiu redesenhar o PV e a questão ambiental. No fim das contas, é a pessoa que levou o Serra ao segundo turno. O PV pós-Marina é outro. Pesquisas mostram que 50% votam em Serra, 30%, em Dilma e 20% não sabem. Com a possível adesão do PV ao Serra e o compromisso com a questão ambiental, 65% votariam em Serra e 35% em Dilma.

Valor: O PMDB ganha força no segundo turno?

Fátima: Sem dúvida. A capacidade do PMDB é ligada ao constante rearranjo dessa federação. O PMDB é a mais camaleônica das forças políticas brasileiras. Tem força na medida em que, uma vez superadas todas as disputas regionais, pode se apresentar como única perspectiva de força frente ao governo Dilma, do qual Michel Temer é vice. Se não houvesse segundo turno, PMDB e Dilma se enfraqueceriam. Isso porque, ao ganhar no primeiro turno, a situação política de Dilma seria mais precária.

Valor: Como assim?

Fátima: Dilma tem aliança ampla e o PMDB é forte. Tenho viés do eleitorado, pois sou socióloga, não cientista política. Ganhando no primeiro turno, parodoxalmente, Dilma se enfraqueceria do ponto de vista do eleitor, já que as rearticulações seriam de bastidores. O eleitorado não veria e se decepcionaria rapidamente, diminuindo a capacidade de liderança de Dilma. Com isso, ela entraria na faixa de eleitos sem autonomia. No segundo turno, as alianças, tanto da situação como da oposição, terão de ser feitas à luz do eleitor. O resultado será uma posição mais consolidada de quem ganhar no dia 31. É um dado novo nas eleições, já que o segundo turno não enfraquece o favorito. Para o eleitor, está clara a relação Dilma-Lula, mas não está evidente a relação Dilma-vice.

Valor: Como o eleitor calcula o benefício das políticas econômicas e a questão ética?

Fátima: O eleitor privilegia vantagens objetivas que venha a ter com esse ou aquele candidato. Mas aceitar que a Dilma é a continuidade de Lula não é automático. O eleitor checa a capacidade do indicado ser portador desse bem maior que é a continuidade. As denúncias não afetaram a confiança do eleitor na ética no sentido da corrupção, mas no sentido da ética em relação ao compromisso.

Valor: Segundo turno zera tudo?

Fátima: Não acredito nisso. Acho que há um caleidoscópio que muda de posição e as pecinhas se acomodam em outro padrão.

Valor: Qual deve ser a estratégia de José Serra (PSDB) agora? Mudar o discurso e usar a imagem de FHC?

Fátima: Se começasse como favorito, o que não acontece, Serra deveria manter o isolamento verificado até agora. Mas sai perdendo, considerando a simulação de segundo turno. Serra tem não só de abrigar FHC, como todas as forças de apoio, passando por Aécio Neves (PSDB-MG), pelas feministas, pelos ambientalistas que poderão advir do PV e pelo movimento negro. Sua posição é difícil. Como fez uma campanha muito estreita do ponto de vista político, reorganizá-la é fundamental. Mesmo perdendo, poderá liderar um processo de rearticulação, de renovação temática. Nessa eleição, houve um crédito para a continuidade, mas ela mostra que a sociedade não quer só isso. Nisso, a estratégia de Serra, de não bater em Lula, estava certa. Só que, no conteúdo, ele focou na coisa de ter mais ou menos unidades de saúde. Ele não tratou de Fernando Henrique como um governo que é responsável por boa parte do bom desempenho do governo.

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